quarta-feira, 30 de maio de 2012

Eu e o Tio Patinhas

No meu último texto falei do Tio Patinhas, um dos heróis da minha infância. Sempre gostei de ler, ler um livro, um livro era uma verdadeira obra de arte que estava ali, que me ensinava sempre algo, que ficava bonito na estante juntamente com outras obras já lidas ou em vias de, desde pequeno que criei esse hábito que se foi perdendo com o aparecimento da Internet lá por casa. Até ter acesso cada vez menos limitado à Internet, fui perdendo o gosto pela leitura, pelo folhear de um livro, pelo cheiro a papel e conhecimento. 

As aventuras vividas na primeira pessoa nas terras dos vikings ou na Roma Antiga, estive em todo o Mundo sem sair do sofá ou do quente da cama. Viajava numa cápsula mágica chamada: livro. E a banda desenhada fez parte da minha literatura infantil. Há quem se recorde de tempos em que eu não lia, eu devorava livros. E devorar é uma palavra que se adequa, pois pegava no dito cujo e só o largava depois de virar a última página. Noites sem dormir ou tardes sem lanchar, nem dava pelo tempo passar enquanto estava a ver as aventuras de tantos personagens, entre eles o Tio Patinhas. O Mickey, o Pateta, o Donald e afins tinham a sua piada mas o Tio Patinhas era o que mais me fascinava. Quem sabe pela sua riqueza, ou pela sua sovinice, ou pela sua má vontade. O raio do pato fascinava-me! Vi o Tio Patinhas descobrir ser herdeiro de um castelo na Irlanda ou aventurar-se no meio de tribos africanas ou entrar em corridas de carros ou, ou, ou, ou, o certo é que o pato de óculos sem hastes fazia tudo. E eu queria ter um pouco de Tio Patinhas. Ou então queria apenas ser rico e poder mergulhar no meio de moedas de ouro...


terça-feira, 29 de maio de 2012

Um nada que é tudo

Sou um rapaz de impulsos. Querem uma prova? Não tenho absolutamente nada de interesse ou de relevo que mereça ser gatafunhado num texto em forma de prosa que dê para saborear à luz de um candeeiro a petróleo numa cabana à beira-mar, contudo, munido de uma dezena de dedos que vou atirando rebuscadamente contra um teclado de um qualquer portátil por mim comprado numa loja com promoções capazes de agradar ao próprio Tio Patinhas, insisto em cravejar nesta página a que chamam blogue um conjunto de letras e palavras que se unem em torno de uma pontuação, quiçá mal utilizada, e cujo resultado será um redondo e vazio nada.

E sobre o "nada" posso dizer tudo, porque dizer nada é dizer tudo, porque não ter nada é ter tudo, porque o nada é o infinito e até o vazio que preenche o infinito é um tudo. Ou um tudo ou nada. Filosoficamente não me apetece dizer nada. Que me perdoe o meu único professor de Filosofia que "aturou" os meus paradoxos existenciais (uma boa pessoa mas cuja relação aluno-professor foi um nada de azeda) mas não hei-de filosofar. Não digo nunca porque isso é o mesmo que dizer nada, irá obrigar a que um dia me contradiga, mesmo sem me aperceber e se me aperceber ficarei a filosofar sobre o facto de ter afirmado que nunca iria fazer algo que fiz e que me leva a fazê-lo uma vez mais para perceber porque o fiz. É estranho, e julgo que o pequeno filósofo que existe em mim, ou talvez seja apenas o meu neurónio Teco a jogar à macaca, acha que devo parar por aqui. No entanto, existe aquela questão do nada que é tudo e, portanto, não posso deixar nada para trás com medo de estar a deixar tudo. Seria clichê pegar nos mandamentos masculinos que ensinam que quando uma mulher diz "nada" se refere a "tudo", seria mas não é. Possivelmente é das maiores verdades absolutas: o nada é uma farsa. Mas que raio é o nada?

Neste mesmo momento estou a pensar em nada e num segundo milhões de imagens e palavras se cruzam no meu pensamento. Tanta vez nos perguntam em que estamos a pensar e respondemos "Em nada", quando na verdade estamos a pensar em tanta coisa que a resposta correcta não seria "Em nada" mas sim "Em tudo", apenas não conseguimos entender em que tudo ou nada estamos a pensar. Sei apenas que a matemática é uma ciência exacta e que tudo o resto pode ser tudo. Se calhar podia alterar o nome do meu blogue para "Uma fatia de pão, um copo de vinho e um pouco de nada" mas agora já é tarde não me apetece fazer nada.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Andar de camioneta até é engraçado

Cada vez gosto mais de ir de camioneta para o trabalho. Mudei recentemente de local laboral e, consequentemente, apanho uma carreira diferente. E muito mais animada. É impossível chegar ao trabalho aborrecido com o facto do maldito despertador ter tocado à mesma hora de sempre e da nossa cama nos ter dado um valente chuto no traseiro. A carreira que apanhava antes era muito aborrecida, pessoas sozinhas a caminho do meio da capital com olhar cabisbaixo. Agora, que trabalho na periferia, vejo gente alegre, gente conversadora, gente amigável, gente a sorrir, gente bem e mal vestida, gente jovem, até os velhotes têm mais saúde e as pessoas aparentam ser mais bonitas. Infelizmente, não são. Apenas são menos infelizes.

Às vezes até me apetece desatar a abraçar aquela gente tão porreira que passa e roça no meu corpo deixando um cheiro que nem sempre é agradável. Só falta convencer o senhor motorista a não acelerar tanto nas rotundas e a parar nos semáforos. Isto da malta jovem andar sempre a jogar aqueles videojogos em que se roubam carros, se sobem passeios para cortar caminho e se atropelam velhotas afecta os condutores das camionetas. Estou convencido que nas aulas iniciais vão para um simulador "quitado" com o GTA ou o Need for Speed. Qualquer dia as camionetas têm "ailerons", jantes brilhantes, e nas rectas os motoristas dão um "cheirinho" de nitro para encurtar a viagem...


terça-feira, 22 de maio de 2012

Cerveja a patrocinar desporto?

A legislação portuguesa tem umas alíneas esquisitas em que coloca restrições e proibições ao patrocínio desportivo por parte de bebidas alcoólicas, indústria tabaqueira e empresas associadas ao jogo. Existe, obviamente, algo na lei que permite ir contornando a situação à vontade dos mais espertos.

Entre trocas e cambalachos, a Unicer renovou o acordo de patrocínio com o FC Porto e com o Sporting CP, através da marca Super Bock. Não é Super Bock Zero, é mesmo Super Bock que figura nas camisolas e nos estádios. Supostamente é proibido mas continua a fazer-se. Entre proibições e aldrabices o campeonato nacional de futebol já se chamou Liga Bwin e agora é Liga Zon Sagres. Pequenos pormenores. E muitas mais marcas à espera sem que os deixem investir.

Não me entendam mal, muito pelo contrário. Sou completamente a favor da liberalização! Por mim a camisola dos clubes podia estar cheia de marcas de bebidas alcoólicas e de tabaco! Devíamos liberalizar o naming, que vai surgindo em desportos como o andebol e o basquetebol e passar a ter o Benfica Sagres ou o Sporting Super Bock! Abram esse mercado. O Real Madrid, quiçá o maior clube do mundo, é patrocinado pela Bwin, o Liverpool foi durante muito tempo patrocinado pela Carlsberg, a equipa onde corre o Miguel Oliveira em Moto3 chama-se Estrella Galicia 00 (cerveja da gama sem álcool, porém, cerveja). São empresas sedentas em investir. Que tal vos parece amigos políticos? 

Até já me estou a imaginar a comprar um garrafão de tinto com desconto de sócio.

Não sabem respeitar ninguém

Regresso hoje a este meu blogue para reportar uma situação. Posso, tendo em conta o meu passado recente, considerar-me um "entendido" nas carreiras daquelas camionetas amarelas que passeiam por Lisboa com pessoas enlatadas. Porém, de tanta alarvidade que já ouvi, tanto disparate cuspido por pessoas cujo Q.I. se assemelha ao de um pepino daqueles amargos, tanta confissão descabida jogada contra um aparelho móvel que não escapa aos ouvidos de todos os passageiros, ontem ouvi uma resmunguice espectacular.

A caminho do trabalho, com uma mão na carteira e outra no rabo para me proteger de velhotas e carteiristas, lá me ia esgueirando entre a multidão. Digamos que a camioneta que eu apanho tem a mesma densidade populacional que aqueles 50 metros de plateia junto ao palco num concerto do Tony. E estava eu muito entretido com uma mão na carteira e outra no rabo quando entram duas senhoras, no seu meio século de loucura já ultrapassado, a conversar amigavelmente num tom ao qual nem os transeuntes que circulavam na rua ficavam indiferentes. Entre as queixas sobre os jovens e o preço dos remédios para o reumático, a mais inteligente (perdoem-me o tom jocoso), salta com esta bonita frase: "Esta gente aqui de pé e ainda há ali um lugar. Não sabem respeitar ninguém"...

Eu sinto que podia terminar aqui o texto.

Moral da história: se te sentas e deixas uma pessoa de idade ou deficiente de pé - não respeitas ninguém; se ficas de pé e há lugares para sentar - não respeitas ninguém; se tens um lugar onde podes sentar meio século de loucura e ainda reclamas - és uma portuguesa à maneira!

Haja uma fatia de pão e um copo de vinho para matar a fome e molhar o bico!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Há dias do catano

Há dias em que o mundo não parece, está mesmo contra nós.
São os catraios do vizinho de cima que jogam à apanhada às 7 da matina, é o motorista do autocarro que acelera quando estás a chegar à paragem, é o molho do almoço que se joga contra a camisa branca, é a torneira do lavatório que se lembra a esguichar quando te baixas para lavar a cara, é a colega da sala ao lado que entra pelo escritório e tropeça no dito cabo que mantém o teu computador ligado... e ao chegar a casa constatamos que o nosso animal de estimação está com flatulência!


Há dias assim, não é exactamente o caso do meu mas estou aborrecido na mesma. Chatices, pah! Resta-me fechar os olhos e pensar que amanhã é outro dia. Entretanto deixo uma frase de motivação para todos os compinchas que nesta terça-feira 15 se sentiram num episódio tristonho de uma novela portuguesa daqueles que dá às 14h da tarde e nem tem direito a cenas de sexo: Azar mesmo é cair de costas e quebrar os tintins! Se não foi o caso, há que lembrar que já fomos o Michael Schumacher dos espermatozóides e que ao nascer já éramos vencedores!


domingo, 13 de maio de 2012

Dia do Trabalhador ou Dia do Pingo Doce?

Semana e meia depois, o assunto "Pingo Doce" parece ter, finalmente, chegado ao fim. Uma "simples" campanha de descontos originou uma cadeia de reacções a que ninguém ficou indiferente. Muitos foram a favor, muitos foram contra, muitos aproveitaram os descontos, muitos preferiram ficar em casa, mas todos souberam e falaram dos descontos do Pingo Doce. Arrisco-me até a dizer que 1 de Maio de 2013 não vai ser o Dia do Trabalhador mas sim o primeiro aniversário do Dia do Pingo Doce.

Numa rápida pesquisa pela Internet, vejo que foram milhares de notícias e comentários nas redes sociais, dezenas de imagens criadas para "ironizar" a acção da Jerónimo Martins. Se o "viral" é a moda do momento, esta pode muito bem ser a campanha viral de Portugal em 2012. São várias as lojas e marcas que fazem descontos, nas épocas de saldos chegamos a ver artigos com 90% de desconto, os electrodomésticos sofrem rebaixas de preços, na compra de uma blusa levamos outra de oferta, existem lojas e secções só de descontos, existem outlets, existem milhares de campanhas por ano. No entanto, o Pingo Doce, num só dia, conseguiu parar o país e não deixou ninguém indiferente. Isto, meus amigos, é algo de fantástico. 27 milhões de lucro num só dia (ainda sem descontar as acusações da ASAE)! É a terceira marca mais falada nas redes sociais em 2012, a seguir a Benfica e Sporting!

Venha de lá o Jerónimo falar de exploração dos trabalhadores. Esses mesmos trabalhadores receberam o feriado a 500%! Esses trabalhadores foram recompensados pela empresa! Venha o Louçã condenar os lucros "inaceitáveis". A Jerónimo Martins, mesmo com a polémica polaca, é das marcas com maior crescimento na banca portuguesa! Emprega milhares de portugueses em todo o país! Venha a ASAE falar de "dumping". Os consumidores que aproveitaram o 1 de Maio num Pingo Doce perto de si saíram de lá satisfeitos e só pagaram metade do que levaram!

Não consigo deixar de falar nos desacatos e nas cenas de violência, numa palavra: lamentável, noutra palavra: vergonhoso. No entanto, a culpa foi do Pingo Doce? Ou terá sido da falta de educação das pessoas? Eu oiço falar em descontos e dá-me vontade de ir às compras e de encher a despensa, não me dá vontade de ir buscar um canivete e atacar três ou quatro desconhecidos. Mas isso sou eu... Venham de lá os descontos e as baixas de preços dos privados pois o Governo, aquele que realmente se alimenta dos contribuintes, só sabe subir os impostos e as taxas!

sábado, 12 de maio de 2012

"Leõezinhos" novamente campeões

O Sporting Clube de Portugal sagrou-se campeão nacional de futebol em juniores masculinos, há poucos minutos. Os leões receberam o Vitória de Guimarães em Alcochete na condição de líderes e fecharam as contas do campeonato com uma vitória por 3-1, Edgar Ié e Bruma (bis) deram o triunfo e Areias apontou o tento de honra dos forasteiros.

A equipa que, no início da época, era treinada por Sá Pinto, mostrou ser a mais forte na fase final do campeonato e voltou a revelar, ou a confirmar, que a Academia de Alcochete é das melhores academias de futebol do mundo. O título tem ainda mais importância para os "leõezinhos" pois a fase final foi bastante discutida e só na última jornada ultrapassaram os rivais do Benfica.

Daqui a pouco, no intervalo do Sporting - Sp. de Braga, será provável a subida dos mais recentes campeões sportinguistas ao relvado do Alvalade XXI para a merecida homenagem.

Foto retirada do facebook oficial do SportingClubePortugal

Quanto a mim, resta-me perguntar: quantos destes jovens irão ser ficar no plantel? Quantos serão emprestados às distritais? Quantos irão parar a campeonatos sem visibilidade? Quantos levarão um pontapé no cú com um título de campeões que irão mostrar aos netos daqui a muitos anos?

Neste plantel cheio de jovens promessas e jogadores internacionais nas camadas jovens de Portugal, estão possíveis valores do futebol português daqui a alguns anos. Será que lhes vais ser dada uma oportunidade? De que serve a formação numa das melhores academias do mundo se o destino lhes reserva um lugar no banco do Casa Pia? Sá Pinto, tu que trabalhaste com esses miúdos até Fevereiro, não deixes que se perca o futuro do futebol português.

Parabéns aos juniores do Sporting e não se alimentem a pão e vinho. Quanto muito podem beber Champomy para festejar, mas só hoje!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Valha-nos o vinho com o iva baixinho

Cultura (segundo priberam.pt)
s. f.
1. Acto, arte, modo de cultivar.
2. Lavoura.
3. Conjunto das operações necessárias para que a terra produza.
4. Vegetal cultivado.
5. Meio de conservar, aumentar e utilizar certos produtos naturais.
6. [Figurado]  Aplicação do espírito a (determinado estudo ou trabalho intelectual).
7. Instrução, saber, estudo.
8. Apuro; perfeição; cuidado.

Na teoria, cultura (o ponto 7 será o mais indicado para agora) deveria estar ao alcance de todos. Portugal precisa de jovens, e adultos, instruídos, com educação, com ambição, entre muitas outras qualidades apreciadas, e com cultura. Toda a gente pensa isso. A minha avó, que por força da sua vontade, sabe ler, mas não conhece Marx ou Descartes e talvez nunca tenha entrado num cinema ou assistido a uma peça de teatro e pouco conhece de música para além do belo baile, contudo, é a primeira a me encorajar a ler um livro ou a ir ao cinema com os meus amigos. E porquê? Porque sabe a importância que a “cultura” tem nos dias de hoje e a importância que terá no meu futuro.

Ainda me lembro de passar férias em casa da minha avó, que muito orgulhoso digo que fica no monte e longe de tudo, e trocar um livro por um jogo de futebol na televisão. Era fatal, vinha puxão de orelhas! “Que te ensina a bola? Estavas tão entretido a ler o livro que te ensina muito mais”, dizia ela. Sem maldade, pois sempre soube que o desporto era a minha grande paixão e, quando mais tarde enveredei por uma área desportiva nos meus estudos e ofícios, foi com alegria que me deu forças. Contudo, o simples princípio que uma senhora com pouca instrução, penso que terminou a antiga quarta classe entre o cuidar do gado e as tarefas do campo, apresenta é extraordinário. Ela tem pena de não ter lido mais livros, de não ter viajado mais, de não ter falado com mais pessoas, de não ter aprendido mais. E, por isso, quer que os seus netos saibam mais e mais.


Faz um ano que deixei a cidade onde estudei. Último semestre com direito a estágio e abalei para Lisboa, atrás da minha vontade – assessoria de comunicação desportiva. Lembro-me que na altura, como qualquer neto babado, me fui despedir da minha avó. Mesmo sabendo que eu não ia assim para tão longe, e até já tinha estudado fora, a pobre senhora com semblante carregado de muitos anos de tristezas, e alegrias, e mãos enrugadas puxou-me contra o seu peito e apertou-me com força. A sério, naquele momento senti-me um Homem, como se estivesse a fazer as malas para partir para a tropa ou para a Guerra do Ultramar. Numa versão mais rebuscada do momento, direi que senti um calor enorme a ser transmitido naquele apertão. Desde então, sempre que lá vou encontro uma simpática velhota que me questiona com um olhar penetrante, como se tentasse absorver em mim os conhecimentos das minhas vivências. Faz-me acreditar que, nascido num outro leito, poderia ter sido directora de uma empresa, tinha vontade e inteligência para tal. No entanto, não teve oportunidade de estudar mais, de aprender mais, de adquirir mais cultura, e trocou o cultivo da mente pelo cultivo da terra, o computador pela enxada e a escola pela lavoura.


E isto remete-me para o primeiro ponto desta publicação (ou post para a malta jovem que se rendeu aos estrangeirismos): a cultura. Eu estudei mais que a minha avó, vi mais filmes, li mais livros, viajei mais (mesmo sem nunca ter ido mais longe que Córdoba ou Badajoz), conheci mais pessoas. E porque raio estou a falar no passado? Tenho 22 anos, uma vida pela frente, talvez duas vidas pela frente, tenho tanto para ler, ver, ouvir, dizer ou cheirar, mas falei no passado. Mas sinto que me querem cortar as asas. Ora, já fui um perdido pela cultura. O facto de entrar numa livraria ou num cine-clube era um atentado à minha carteira. Sempre que ia a uma livraria, comprava um ou dois livros. Independentemente do seu conteúdo, era cultura e conhecimento que eu estava a comprar. Há cerca de dois anos, deixei de entrar em livrarias. A razão? A carteira, pobre coitada não está em condições de sofrer mais atentados. A comida na mesa, as contas da casa e o alimento do veículo levam tudo e o fim do mês é um oásis. Como se não bastasse, vêm de lá os mandões pedir esforços à malta. De um lado oiço incentivos aos estudos, ao cultivo da mente. Do outro lado, vejo as propinas a aumentar (deste mal já me safei) e vejo o iva a subir na cultura e no entretenimento. Neste carrossel de contradições, valha-nos o vinho que manteve o iva baixinho. E bem precisamos de uma boa pinga, para que as palavras dos mandões façam sentido. Avó, prepara-me um garrafão de vinho para eu meter na mala, antes que a ASAE feche a adega por falta de condições...

Antes de mais, sejam bem-vindos


À beira de completar 23 primaveras, dou por mim sentado num banco na cozinha à espera que a água comece a ferver para botar a massa lá para dentro a fim de me refastelar com uma bela pratada de esparguete à bolonhesa. Não me considero nenhum Henrique Sá Pessoa ou tão pouco um chef Ramsey, contudo, tenho um certo dote culinário que gosto de explorar e está um cheirinho tão bom nesta cozinha que até me envadeice.

Ora, enquanto a água ferve e não ferve, decidi criar um blog. Sou um homem impulsivo. Imagino uma coisa, pondero durante três ou quatro minutos e, se o Tico e o Teco (os neurónios) estiverem de acordo, parto para a acção. Quando quero uma coisa, faço, não ando cá com rodeios. E pronto, aqui estou eu a escrever a primeira publicação de “Uma fatia de pão e um copo de vinho”...

(Pequena pausa para jogar o esparguete para dentro da panela, uma pitada de sal, um pouco de margarina, meio caldo de galinha e agora é só ir mexendo até estar a gosto).

E quando faço uma coisa, quero orgulhar-me dela! Nesta vida já devo ter criado uma meia dúzia de blogues. Blogues sobre política, blogues críticos, blogues de comunicação, blogues desportivos... Nunca consegui ter vontade de prosseguir, faltava sempre qualquer coisa. Hoje, tenho a certeza que estou preparado para avançar. Quero orgulhar-me das palavras que teclo, quero que os leitores sintam vontade de voltar, quero afirmar a todo mundo que tenho um blogue e que devem perder uns minutos a lê-lo. E comprometo-me aqui para não me esquecer: vou ter orgulho no que escrevo!

E agora, que já abri as hostes, vou encher a pança e martelar um pouco nas teclas para exprimir o que me vai na alma. Amigo leitor, obrigado por ter passado por cá, um bem-haja e volte sempre. É um blogue bonito, é de graça e é escrito por uma pessoa pela qual tenho uma enorme estima, eu próprio. No meanwhile, o fim-de-semana está aí e a vida aborrecida pode esperar até segunda!