sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O fim do mundo, diz o Maia

Alguém me podia dizer a que horas é o fim do mundo? Chamem-me céptico se quiserem mas depois de ter sobrevivido ao fim do milénio, a três semanas académicas e à derrota do Benfica nas meias-finais da Liga Europa, já não acredito muito nisto de profecias e frases feitas. Muito pelo contrário, quero rir na cara do mundo sempre que ele não acabar.

E como tal, já que até o sol apareceu (será para ver de perto isto a ir tudo pelos ares?), queria saber o horário deste evento. É que fiz uma aposta com um amigo em como ia sair à rua só de sunga leopardo a gritar "Estou vivo!" e pretendo vencer esta aposta. Mal acordei dei uma volta ao quarteirão só de sunga a gritar "Estou vivo! Sobrevivi! Vem cá buscar-me meteorito! Qual Bruce Willis, eu subrevivi ao Armageddon!" mas houve uma velhota que me interpelou e disse que afinal estava marcado para as 11 e qualquer coisa. Ora, ao meio-dia, fui ao WC do escritório e descasquei-me todo, tive de esgueirar-me por entre as mãos peludas do segurança para sair à rua a gritar "Estou vivo! Toma lá Eça de Queirós!" mas depois foi agarrado pelo segurança e por três informáticos do escritório do 1.º andar. Agora dizem que é a meio da tarde... Estou baralhado e ainda não vi um meteorito, uma faísca ou uma onda gigante!

Que se lixe, vou para a varanda só de sunga! Andem daí Maias, não tenho medo!

PS: se isto for tudo no c******, só peço que não me levem para o céu (apesar dessa hipótese ser muito remota). Ouvi dizer que lá embaixo temos Jimi Hendrix, Jim Morrison, Frank Sinatra, Kurt Cobain, Freddie Mercury e Amy Winehouse. Para além disso, aquilo está sempre a arder e eu adoro barbecue, e já para não falar que com calor as miúdas devem andar todas descascadas. Bem pessoal, se não aparecer aqui no blogue durante uns dias, podem encontrar-me na primeira fila a curtir a música!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Como será o fim do mundo?

Pessoal, venho aqui despedir-me de todos vós que durante estes meses me aturaram aqui neste cantinho. O nosso tempo está a chegar ao fim, segundo um calendário antigo de uns mexicanos isto a que chamamos mundo vai acabar. Talvez nos voltemos a encontrar um dia.

Estou agora a fazer a mala, se o mundo vai acabar não quero deixar nada por fazer. Já comprei um bilhete de avião para Las Vegas. Pretendo gastar o meu dinheiro todo! Vou jogar roleta, blackjack e poker! Vou beber do melhor whisky que lá houver (ou do pior, no caso de perder a jogar no casino)! Vou tentar não apanhar SIDA e tocar apenas em drogas leves! Vou comprar um macaco amestrado! Vou roubar o tigre do Mike Tyson! Vou correr desnudado pela Las Vegas Boulevard! Vou fugir da polícia! Vou passar umas horas na prisão com dois violadores! Vou experimentar três ou quatro posições do Kamasutra que me deixam intrigado! Vou dançar só de sunga em tons leopardo nas colunas de um clube de strip! Em suma, uma viagem normal a Las Vegas.

Como será a vida depois do fim do mundo? Isso sim, deixa-me nervoso. Ou como será o fim do mundo? Tsunamis? Meteoritos? Tornados? Tudo? Os Maias foram pouco claros e tenho muitas dúvidas. Que tipo de evento é esse do "fim do mundo"? Devo vestir o meu melhor fato ou posso ir descontraído de calções de banho e chinelos? Ou posso ir só de sunga? Temos bar aberto ou é melhor levar uma garrafa de vodka, pelo sim pelo não? Será que passam música boa ou é tipo Justin Bieber? E os snacks, são mexicanos em honra dos Maias ou há uma iguaria de cada canto do planeta redondo? Eu tenho uma consulta marcada para Janeiro, devo ligar a cancelar ou não faz diferença? Será que o médico me safa uma consulta depois do fim do mundo ou é abusar da boa vontade do senhor? Eu tenho o péssimo hábito de chegar atrasado a todo o lado, será que se chegar atrasado ao fim do mundo me deixam entrar? Eu nem sei a que horas é! E dizem que é em todo o lado mas duvido, por exemplo eu conheço Sabóia e lá nunca acontece nada, também vai haver fim do mundo em Sabóia? Quanto muito podem fazer um baile mas não me acredito que eles tenham condições para se meter num evento internacional deste calibre.


Não me dava mesmo jeito nenhum que o mundo acabasse esta semana. Raios parta esta história toda...

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Tarantino is back!


Numa altura em que os States vivem mais um drama, Tarantino, entre outros realizadores lá do mundo do cinema, decidiram cancelar as ante-estreias dos seus filmes. Acho bem e acho mal mas fico do lado do grande Tarantino.

Quentin para a família, Quentin Jerome para a mãe quando se porta mal, um dos maiores nomes do cinema para mim, disse aquando do massacre de Newtown e referindo-se ao seu próximo filme, "I just think, you know, there's violence in the world, tragedies happen, blame the playmakers. It's a Western. Give me a break." (in uk.eonline.com).


Já dizia o Seth MacFarlane, cuja série Family Guy também viu o seu novo episódio cancelado no passado fim-de-semana, "It seems today, That all you see, is violence in movies, and sex on TV". E vemos. Desde piquinalhas que sou bombardeado com violência e sexo no mundo das artes. Mas isso nunca fez de mim um psicopata assassino cheio de tesão. Ok, talvez sinta algum prazer quando mato aquele mosquito que nos tenta manter acordados às cinco da manhã e se fosse falar de tesão ficava aqui o resto do dia a escrever sobre mamas. Mas não é isso que está em questão, eu e milhões de apreciadores de filmes de violência extrema não vamos comprar uma metralhadora para andar aí a matar criancinhas.

Muito pelo contrário, devido à cultura fílmica que me assiste, em questões de violência extrema e pornografia, eu anseio pelo dia em que um grupo de loiras psicopatas invada a minha casa, rapte o meu gato e me obrigue a ir atrás delas armado até aos dentes, com uma bazuca, uma magnum, duas espadas de samurai, uma shotgun e uma banana! No final, quando encontrar a cabecilha da organização a fazer festinhas ao meu gato, tiro a roupa e acabámos a noite num banho de espuma num quarto de motel todos arranhados e despenteados. E pouca gente sabe mas eu odeio estar despenteado! Isso sim, seria um tipo de violência em que eu não importava de envolver. Não me venham dizer que o Terminator a dizer "I'll be back!" incentiva a matar robots ou que um western, no caso do novo filme do Quentin, incentiva a matar bandidos e índios!

E agora, quedem-se com o trailer do virtuoso western que chega em Janeiro às grandes telas portuguesas. Django Unchained...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Porta-te bem, felino

Vou desabafar convosco e espero que ninguém conte às autoridades mas, e isto é uma possibilidade cada vez menos remota, se o meu gato desaparecer por um tempo interminável e encontrarem sangue no meu quarto, eu posso ter algo a ver com o assunto.

Costumo falar com o animal e quando estamos sozinhos até lhe confidencio coisas sobre mim, sobre a minha vida e afins, porque penso que ele gosta de ouvir. No entanto, ontem ouvi um miado parecido com uma palavra, a saber "miaunteiga", o que é praticamente tudo o que o meu colega de casa sabe dizer e isso deixa-me preocupado. Ainda para mais, reparei que o livro que ando a ler (pasmem-se, é sobre José Mourinho), tinha o marcador numa página diferente e estou desconfiado do gato. Qualquer dia aparece lá em casa a recitar Os Lusíadas e daí até contar os meus segredos mais assustadores é um pequeno passo. É uma situação delicada contudo, e como agora já sei que é um macho, não me sinto tão mal em pensar em assassinar o bicho. Ou então tento fazer chantagem primeiro, começo por lhe esconder os biscoitos preferidos, meto alfinetes dentro da bola de ping pong, pego-lhe fogo à cauda, só para ele perceber que é mais saudável se ficar calado.

De outra forma, seria chato o felino contar às redondezas algumas confidências. Por exemplo, fui eu que fechei o caniche da velhota do 2.ºD nas escadas de emergência só porque estava farto de ter um porta-chaves a gingar na minha perna, ou fui eu que estoirei com a energia em todo o quarteirão quando tentava fritar o periquito da velhota do 2.ºE com duas lâmpadas, ou fui eu quem colocou uma falsa convocatória de condomínio para discutir se a velhota do 2.ºF podia ter 14 gatos na varanda só porque o marido a trocou por uma rapariga que trabalha ao balcão da churrascaria da rua de baixo. Agora que penso nisso, devia afastar-me do 2.º andar antes que as velhotas se juntem contra mim, uma delas tem um cajado em madeira e já a vi correr atrás de um garoto malcriado.

Elevador amigo, não avaries nem pares no 2.º andar que eu prometo portar-me bem daqui em diante. E ai de ti, saco de pulgas, que te chibes de alguma coisa!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Um drama a sério

Toda a nossa vida é feita de escolhas, de oportunidades, de pequenos momentos que tomam grandes proporções. Aqueles dois minutos de preguiça na cama e o autocarro que nos foge e nos faz chegar atrasados no dia em que o nosso patrão descobre que o amante da mulher tem chatos e que isso explica a forte comichão nos seus tomates... No momento certo ou no momento errado, qualquer gota de água pode causar uma tempestade, e vice-versa.

Ainda me lembro de quando era um pequeno catraio irrequieto. Tinha a energia de qualquer petiz malandro e irrequieto, a curiosidade de um gato, uma tendência enorme para a asneira. Nesses dias, em plena década de 1990, havia poucas coisas que acalmavam o meu ímpeto de petiz malandro. A saber: desenhos animados! Eu sabia melhor o horário dos desenhos animados que as pessoas que escreviam a programação nas revistas. E era tudo calculado ao pormenor, o habitual ritual matinal e o final de tarde eram tratados com mais precisão que a tentativa de abrir um cofre. Saía da cama, ia a correr para a casa-de-banho, sabia exactamente os segundos que levava a fazer xixi, e quando me sentava a tomar o pequeno-almoço já estava a começar o genérico dos desenhos animados. Nunca falhava! E se, como acontecia no século passado, a emissão falhasse ou houvesse uma alteração inesperada, eu dava em maluco. Arrancava cabelos, batia no gato, não arrumava a taça dos cereais no lava-loiça e quando chegasse à escola estava de trombas! Saía do sério com essas porcarias. Parecia um relógio suíço, sempre exacto na hora de atar os cordões e chegava a não meter o cinto nos dias em que demorava mais 10 segundos no banho.

No outro dia, dizem, aquela rede social que teve direito a um filme ficou fora do ar durante uns tempos, tal como aquele motor de buscas bastante conhecido, e as pessoas entraram em parafuso. Imagino a desilusão daqueles que estavam a conversar com os namorados ou que estavam quase a bater um novo recorde naqueles jogos irritantes que estão sempre a encher a minha caixa de pedidos! Meus amigos, o Dragon Ball mudar de horário sem aviso prévio e eu perder o terceiro episódio da luta contra os Sayians é um drama, ficar um par de horas sem Facebook é um alívio! Eu não me apercebi que essa coisa estava fora do ar mas se falhava um episódio, eu reparava! Se o Facebook falha, podem jogar outra coisa qualquer ou usar outras formas de comunicar com outras pessoas mas se os desenhos animados não davam à hora certa, como queriam que visse aquele episódio? Nem podia fazer um download ilegal naquela altura. Isso sim, eram dramas a sério!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Tocar um instrumento com estilo


Descobri hoje, algo que já suspeitava há muito. Como ser humano, gosto de ouvir música. Não foi isso que descobri, tenham calma rapazes e raparigas. Na música, e em termos de gostos, as opiniões divergem no estilo preferido, bandas, cantores, músicos, instrumentos, sons e por aí fora. Não sou excepção, tenho os meus gostos que até são bastante variados e chego a oscilar entre a música de baile e o sempre agradável jazz. Contudo, e porque não estou aqui para falar de grandes bandas ou artistas, vou directo ao assunto - piano, bateria e violino!

É isso mesmo, leram bem, não vou voltar atrás para apagar, são esses os meus três instrumentos de eleição. Cada um no seu devido momento, todos com um som maravilhoso, excepto se tocados por uma criança de três anos com atitudes psicopatas e tendências agressivas. Preferem que eu descontrua e avance por partes?

Não sei tocar nenhum instrumento, sempre preferi jogar à bola e andar de bicicleta e jogar videojogos e ler. Estes são os três instrumentos que mais aprecio. Recentemente mostraram-me um músico que introduz o som do violino em música rock e digo que fica algo de espectacular. No entanto, não me imagino a tocar violino, imagino-me antes a tocar piano. Sentado, a fumar um charuto, a beber um copo de whisky on the rocks, com uma morena escultural sentada em cima do piano. Uma espécie de Serge Gainsbourg mas em português, com uns abanadores mais curtos e com bigode. É de uma tremenda classe tocar piano com uma mulher esbelta e pelada em cima do instrumento...

Peço desculpa mas não encontrei nenhuma foto da Jane Birkin pelada em cima do piano do Serge...
E bateria, que se pode dizer da bateria. Conheço quem toque, e bem, mas nunca me atrevi a começar, toquei bombo durante duas semanas numa tuna universitária e continuo a tocar "air drums", apesar de também tocar "air piano" com o teclado do computador e "air violin" com canetas. Hoje descobri que a tocar "air drums" fujo ao ritmo que oiço, deixo-me levar pela espontaneidade e dou por mim a falhar completamente a pauta. Os meus colegas de trabalho já nem dizem nada, também já há uns tempos que acreditam que eu sou maluco pelo que tocar uma bateria imaginária nem é muito grave. Agora imaginem-me a tocar juntamente com uma banda e a meio da música fechava os olhos e deixava-me levar pelo meu próprio ritmo. As fãs iam adorar e iam chover cuecas em cima da bateria, as mulheres sempre gostaram de bateristas, mas os meus colegas, para além da inveja, iam ficar à nora perante tal radicalismo musical. Já piano, acho que sou capaz de aprender a tocar quando o cabelo começar a ficar grisalho. Nessa altura também começo a fumar charutos importados da terra do Fidel e vou achar-me sexy.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Afinal é um gato

Eu tinha uma gata que afinal é um gato e isso mudou tudo. Sinto, claramente, que os meus últimos dois meses foram uma mentira. Eu estive a viver uma mentira! Depois de ter colocado um texto intitulado "Gato, o chamariz de garotas" parti para a acção e recebi mesmo na minha moradia um animal da espécie acima referida. Contudo, à primeira vista parecia-me estar perante um espécime feminino e todos cá em casa o começamos a tratar como tal, até esta semana. Esta semana mudou tudo.

Quando tínhamos uma gata éramos uns pais carinhosos que fazíamos todas as vontades à menina. Chegamos a comprar Barbies para ela brincar, e ela brincava toda contente, dávamos-lhe banhos de sais e espuma, víamos fotos de gatos machos pelados, até cheguei a fazer uma maratona de Sexo e a Cidade com "ela". E o pior, "ela" dormia connosco, na nossa cama. Mas agora é "um gato" e passou a ter uma vida de macho!

Em primeiro lugar acabaram-se os banhos, um gato macho lava-se com a própria língua! Forrámos a sala com fotos de gatas desnudadas e algumas vestidas com camisolas de lã bem sexy, passámos a meter picante nos biscoitos e acabaram-se os patés enlatados! Agora deixamos a televisão ligada em canais de desporto quando saímos e vemos pelo menos um filme de acção por dia, de preferência com muito sangue. Quando se trata de vida nocturna, e apesar de ser um felpudo de apenas cinco meses, pode ficar acordado até tarde, se quiser sair com os amigos está à vontade, já bebe cerveja com os donos e estamos a ensinar-lhe piropos e frases de engate, só não toleramos drogas e a primeira vez que o apanharmos a fumar vai levar com o cinto. Agora tem uma manta do Action Man e nunca mais o obrigámos a lavar loiça ou arrumar a casa, isso é coisa de mulher e o nosso gato é um macho. E, mais importante, agora dorme na rua! Não quero um macho a dormir enroscado nas minhas costas...

Se ele está mais feliz agora, não sei, mas está a portar-se como um verdadeiro homem! Ontem tinha duas gatas a miar à porta e deu-lhes para trás para ficar a ver The Avengers com os seus compinchas. Está feito um homem, o meu "ex-gata"!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Fui convidado para...

Pediram-me para escrever um texto sobre o desporto algarvio e eu, muito simpático, decidi aceder ao pedido. Aliás, até vou escrever dois textos. Contudo, até me sentia mal se não partilhasse tal obra-prima da literatura moderna convosco. É verdade, sou um ser extremamente adorável e gosto de vocês, gosto de todos os que já tiveram a ousadia de invadir este meu espaço pessoal onde eu disserto sobre a vida, sobre o mundo, sobre nada e sobre coisa nenhuma. É verdade, um bem-haja a vocês, vocês são os melhores leitores que eu já tive. Não fiquem já emocionados, só bebi um copo de vinho tinto e duas garrafas de Licor Beirão portanto não estou, nem de perto nem de longe, bêbedo, apenas ligeiramente alcoolizado.

Como é óbvio, e porque vocês são os melhores leitores do mundo, não vou publicar já os textos. Nem vocês merecem tal afecto da minha parte. E eu não sou nada dado a afectos, excepto se forem raparigas bem roliças e jeitosas, aí abro uma excepção, ou duas, se elas estiverem para aí viradas. Ou seja, serve este gatafunho para vos dizer que o director de uma publicação online, da qual eu sou um padrinho desnaturado, me pediu para meditar sobre o desporto algarvio. E tanto que eu teria para escrever sobre o desporto algarvio, ou sobre o desporto em geral. Caro amigo, deixa-me já dizer que isto é das tarefas mais exigentes que me pediram nos últimos tempos e só a vou realizar porque me sinto em dívida para contigo.

Vocês, amigos leitores, esperem por eles. Serão bombásticos! Fantásticos! Cheios de acção e desportivismo! Estão para breve, estão a chegar, quase a chegar, mas não será hoje. Bem-haja amigos!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Sou um Algarvio em Lisboa

Em Lisboa, aquilo a que chamam maior acumulado de prédios deste cantinho à beira-oceano, as pessoas mantêm relações impessoais entre elas. Eu próprio, aqui na minha zona, na minha rua ou no meu prédio, não conheço ninguém. Cumprimento, por cortesia, quem encontro dentro do edifício ou as caras que vejo com maior frequência mas sinto que possuo apenas uma cama nesta área e não me sinto parte dela. Ainda hoje vim com uma senhora no elevador e a viagem foi longa demais para tanta conversa.

Porém, e fica sempre elegante começar uma frase com um porém, desde piquinalhas que gosto de iniciar uma oração com um elegante porém, ou até mesmo um contudo, outras vezes recorro ao no entanto, sinto que iniciar uma frase já pronto a lançar um grito de revolta é algo que me fica bem, ora, porém, esta situação traz alguma animação ao dia-a-dia.

A razão por eu escrever este texto é muito simples, e passo a explicar: estava eu com uns amigos, a descer umas escadas à saída de um café, e vinha na frente do grupo a falar com uma rapariga cuja língua materna não é o português. Sempre brincalhão, estava a meter-me com ela porque ela tinha dito "bye, bye" ao empregado do café quando poderia ter dito em português. E então ela apercebe-se que sabe dizer algumas palavras em português e atira um "boa tarde" um pouco mais audível que o desejado. À nossa frente ia um casal nos seus quase trinta e a rapariga olhou para trás assustada. Como é óbvio, desatei a rir, a minha amiga ficou envergonhada, a outra rapariga ficou assustada, o outro rapaz começou a rir, eles aceleraram o passo e desapareceram da nossa frente num ápice. E eu fiquei a matutar naquilo. Se calhar a rapariga ainda ficou à espera que lhe pedisse desculpa por ela ter pensado que o "boa tarde" era para ela. Lisboa é um sítio onde as pessoas são "bichos-do-mato", ninguém se conhece, ninguém quer saber das outras pessoas e incomodar alguém é uma alegria. Às vezes vou ao supermercado e meto conversa com o funcionário da caixa, principalmente se for uma rapariga jeitosa, e há quem leve a mal. Costumo fazer piadas de circunstância e fingir que não tenho dinheiro na carteira, e há quem não reaja, continuam com aquele ar de robot e só conseguem dizer "bom dia, tem cartão de cliente?, são 14 euros e 32 cêntimos, obrigado" e levam as oito horas de labuta naquilo.


Se calhar sou um "Algarvio em Lisboa". Ainda no outro dia parou uma ambulância ao pé de mim para pedir indicações e eu, que mal conhecia a zona, tentei ajudar, não consegui, mas também não fugi a sete pés com medo das pessoas! Deixava aqui um apelo às pessoas das cidades, deixem de ter medo das pessoas (excepto de pessoas com mesmo muito mau aspecto ou que carreguem facas consigo). Já dizia um grande homem, "smile doesn't cost a penny"! Vamos ser alegres por um dia e sorrir às pessoas que vemos na rua e cumprimentar o motorista do autocarro e o "caixa" do supermercado e o vizinho do rés-de-chão. Vamos ser pessoas!

PS: Às vezes sinto-me um "Englishman in New York".

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A diferença de usar um blazer

Já escrevi sobre trânsito várias vezes, lembro-me de ter escrito umas duas vezes ou coisa assim, e é um tema a que nunca fico indiferente, muito pelo contrário, até fico diferente. Confuso? Adoro causar esse efeito nas pessoas. Às vezes invento histórias só para ver até onde consigo levar a minha imaginação, é engraçado. Mas sou diferente porquê? - perguntam vocês na esperança que eu não comece a divagar. Pois bem, sou diferente por duas razões.

Primeiro, sou Gémeos de signo e, segundo a revista Maria e o professor Bambu, tenho uma espécie de dupla personalidade cósmica que é orientada por astros que estão a anos-luz de distância e que interferem com a minha forma de ser. Basicamente, eu deveria poder fazer tudo o que quisesse, bastava-me colocar as culpas nas estrelas e toda a gente iria compreender a situação. Segundo, cresci no campo e vivo na cidade mas continuo a ter hábitos do meio rural. Aliás, já estou a juntar terra para fazer uma horta na minha varanda. Tipo só para cultivar umas batatas e uma saladinha. Os legumes do supermercado são assustadores.

E de regresso ao trânsito, salvo seja, seria perigoso estar a escrever um texto ao volante e não aconselho isso aos jovens até porque os jovens não devem conduzir antes dos 18 anos, excepto nos meios rurais como aquele onde eu nasci. Pois bem, vou tomar uma nova atitude na minha vida de condutor: sempre que não estiver atrasado, vou usar um blazer. É isso mesmo, vou passar a conduzir de blazer. Mesmo no Verão, mesmo que seja desconfortável, vou usar um blazer. Já tinha pensado nisso outras vezes mas hoje, que estava a conduzir de blazer e sem me preocupar com o tempo da viagem, vivi uma experiência única, e que aconselho aos jovens - quando fizerem 18 anos e tirarem a carta! Experimentem vestir um blazer e, sempre que se depararem com uma situação de cedência de passagem em que seria educado dar passagem a outro condutor, façam-no com um subtil gesto de mão por cima do volante. Fiz isso hoje e senti-me dono da estrada! Estava eu, no meu calhambeque, de blazer, e no meio do pára-arranca, decidi dar passagem a um sujeito bem vestido num veículo com cavalos lustrosos e bem cuidados (digamos que o meu deve ter alguns mas ao pé do veículo a que eu dei passagem, parecem póneis escanzelados!). Como é que o fiz? - perguntam vocês com os olhos a brilhar. Endireitei-me no banco, mirei o blazer, mão direita nas mudanças (já é hábito), mão esquerda em cima do volante e um subtil gesto a dizer "siga lá chefe, EU deixo". E lá foi ele, todo contente. Meus amigos, se eu estivesse a usar uma blusa com gola aberta ou uns suspensórios iria parecer ridículo mas de blazer, não sei se percebem a dimensão da coisa, senti-me um autêntico patrão!

Pronto, foi o ponto mais alto do meu dia. Amanhã vou novamente de blazer, até estou a ponderar levantar-me mais cedo só para mostrar aos senhores que conduzem veículos de alta cilindrada (suponho que deixar passar um mata-velhos ou um Clio de 1994 não dê a mesma satisfação) quem é o dono da estrada! Agora, atenção, já fui confrontado na rua por causa dessa situação: será que alguém que baptiza o seu blogue de "copo de vinho" devia falar de condução? Espero que não bebam vinho e vão para a estrada, pode correr mal. Aqui fica a minha mensagem de responsabilidade social, mas só porque é Natal!