Ontem sucedeu-se algo na minha vida que alterou a forma como eu vejo o mundo. A partir daquele momento, nada mais foi igual para mim. Um misto de revolta e impotência apoderou-se de mim, e quase chorei por dentro. O drama, o horror, a tragédia...
O que se passou foi o seguinte. No prédio onde eu laboro, existem dois elevadores e, tendo em conta que o escritório onde ostento uma secretária é num quinto andar, costumo utilizar frequentemente os ditos cujos. Ora, ontem, estava eu descansado da minha vida a preparar-me para ir almoçar, chamo o elevador, entro no elevador, carrego no botão do rés-de-chão, a porta fecha e, de repente, o meu nariz descobre algo. Semi-cerro os olhos, dou duas ou três narinadelas, e faço um primeiro diagnóstico da situação - cheirava a bufas! No primeiro instante cobri simplesmente o nariz com a mão e comecei a rir. Um qualquer malandro ou malandra do prédio largou um gás pestilento no ascensor para amaldiçoar o desgraçado que tivesse a infelicidade de necessitar de subir ou descer. O desgraçado era eu, e até já contava vingar-me numa próxima. Todos nós já largamos uma bufa no elevador e fugimos apressadamente para lixar o próximo. Eu próprio estou sempre a fazê-lo, sempre com sucesso. Mas, de seguida, chegou o medo. Ainda faltavam quatro andares e tudo podia acontecer. Comecei a tremer, desesperadamente tentei sacudir o odor, "e se o elevador pára antes de chegar ao rés-do-chão e entra alguém??? De certeza pensam que fui eu e fico com má imagem no prédio...". Escusado será dizer que entrou uma senhora... no segundo andar. Podia ter entrado um homem e até podia achar graça à situação, rir-se, gozar por dentro, contar histórias aos amigos sobre um jovem bem bonito que tinha largado uma bomba atómica no elevador e riam todos juntos enquanto bebiam umas cervejas e comiam uns caracóis. Mas não, entrou uma senhora! Cerca de 40 anos, aspecto carrancudo, com ar de executiva, pasta em uma das mãos e telemóvel, daqueles que tira fotos, faz vídeos, cozinha, passa a ferro, e tem acesso ao Facebook, na outra. A porta abriu, saímos os dois, fiquei para trás e vi-a entrar num carro de uma empresa de consultoria sediada longe dali. Era apenas uma senhora que tinha vindo a uma reunião e o risco de a voltar a encontrar não seria muito grande.
Moral da história: na realidade existem várias morais nesta história. E vou enumerá-las.
1º - Cuidado ao entrarem num ascensor. Antes de iniciarem a viagem, façam o reconhecimento do local. Se cheirar mal, apanhem o próximo.
2º - Se costumam largar umas bufinhas no elevador, tenham cuidado. Aquilo nem sempre segue as leis da física e pode abrir inesperadamente, entrar a mulher dos vossos sonhos e não ficar nada impressionada.
(Atenção, para todos aqueles que interpretam "impressionar" com uma bufa poderosa, daquelas que o cheiro arrepia os pêlos do corpo e cria lágrimas nos olhos - as mulheres não gostam disso.)
3º - Se a senhora que estava no elevador e ficou com ideias erradas estiver a ler isto, garanto-lhe que não fui eu. Eu, por norma, até cheiro bem, tomo banho e uso aquelas coisas para deixar o corpo bem cheiroso e até gostoso.
4º - Não larguem presentes ao próximo. Porque o próximo posso ser eu e a minha última experiência alertou-me para os perigos dessa vida.
Um bom fim-de-semana para todos, minis, caracóis, Wimbledon, Tour, e muita chuva!