quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Marinho Pinto, cognome: o pobre

Se para Marinho Pinto o ordenado de um deputado é "indigno", como será que ele classifica o ordenado de um trolha ou de um caixa de supermercado? Cavaco Silva também se queixa de ganhar apenas 10 mil euros por mês e Marinho Pinto acha isso muito pouco. Que achará Marinho Pinto de um reformado que trabalhou uma vida inteira e sobrevive com duzentos euros por mês e com despesas de saúde a roçar nos trezentos?

É complicado, num país onde todos vivem revoltados, ter declarações destas. Eu até posso tentar perceber o lado do Marinho, porém, a realidade é que em Portugal o salário mínimo não chega aos 12 mil euros anuais (três meses para o Marinho Pinto, portanto). A realidade é que há muitos licenciados e doutorados a receber o salário mínimo (com licenciaturas a sério, a do Miguel Relvas é uma excepção e não deve ser ensinada aos jovens). A realidade é que muitas empresas despedem profissionais com experiência para contratarem estagiários e jovens para fazer o mesmo trabalho e receber menos.

Mas eu não estou aqui para julgar ninguém. Fazer vida de pobre já me ensinou muita coisa. Posso até dizer que tem sido uma benção! Aprendi a cozinhar, lavar roupa e loiça, passar a ferro, aprendi a ir às compras, aprendi a fazer matemática e a gerir as minhas finanças. Descobri que é possível fazer três refeições com um pacote de massa, uma lata de cogumelos laminados, um pacote de natas e 200 gramas de bacon. Duvido que o Marinho Pinto saiba as diferenças entre uma cerveja Cergal e uma Heineken ou a diferença entre um vinho Quinta de Cabriz e um Navegante. Vai buscá-la, Marinho, eu sei!

Em comparação abstracta, posso afirmar que o Marinho Pinto seria incapaz de sobreviver meio ano a receber 500 euros por mês mas eu podia viver à lorde se recebesse 4800 euros. Não quero dizer que sou melhor que o Marinho Pinto mas...

O Marinho Pinto vive na Liga Europa e eu vivo nos campeonatos distritais. Ele contrata um Audi topo de gama e eu contrato um Opel Corsa de 1999, ele contrata um filet mignon e eu contrato umas costeletas do cachaço em promoção, ele contrata Marquês de Borba de Reserva para um jantar agradável e eu contrato JP. E quando é altura de atacar o título com uma mala da Prada para a esposa e uns sapatos da Gucci, eu recorro à formação e volto a usar o cinto da C&A e a t-shirt da Pull & Bear.

Mas o Marinho Pinto tem razão, viver em Lisboa é caro. Com mil euros em Lisboa eu fazia vida de pedinte. E mesmo assim tinha de dividir casa com dois amigos, andava de transportes públicos, jantava em casa e levava o almoço numa caixa de plástico. Ir jantar fora só em ocasiões especiais, cinema via torrent, futebol em streaming e roupa nova só em Outlet. E que Deus me ajudasse se ficasse doente ou se o carro tivesse uma avaria. Despesas extra não entram nas contas.

Estou contigo Marinho! Vamos aumentar o salário dos deputados. Mas só dos deputados. Os pobres estão habituados a viver pobres e podem reagir mal se receberem um ordenado superior a 500 euros por mês.

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