quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu nos Jogos Olímpicos


Os Jogos Olímpicos são o maior evento desportivo do mundo. Três semanas de elevada intensidade e com a presença dos melhores desportistas do planeta, procedidos pelos Paralímpicos (que tendem a ser ignorados, mas isso ficaria para outro testamento).

Enquanto acompanho, pela televisão e pela internet, as prestações lusas e dos demais que me interessam, também sou rapaz para sonhar em ser porta-estandarte na cerimónia de abertura dos Jogos. Quem não adorava carregar a bandeira nacional na abertura do maior evento desportivo do mundo? Até porque eu, e isto é um facto, já fui desportista! E na altura acreditava mesmo que podia chegar ao nível do Obikwelu! Era bastante rápido, tinha uma aceleração estonteante e uma velocidade de ponta equiparada à de uma Zundapp 3, a patinar numa subida... Tive a sorte de conhecer pessoas impecáveis, gente cinco estrelas e ainda consegui tornar-me amigo de muitos adversários com os quais lutava pelo primeiro lugar, ou pelo segundo, ou vá, pelo penúltimo lugar. Ganhei uma corrida ou duas, amealhei uma mão cheia de medalhas, um jovem aspirante a velocista.

Como era bom moço, participei em várias estafetas pelo meu clube. Maioria a nível regional, mas lembro-me de ter participado em, pelo menos, duas estafetas a nível nacional! E, como não podia deixar de ser, nenhuma das duas correu como seria esperado. Em juvenil, a minha estreia em competições nacionais - Apuramento nacional de clubes, Seixal. Provas: 100m - eliminatórias e 4x100m. Na prova de 100m precisava de doping, e nem era para ganhar, só para não passar vergonhas. Tinha menos probabilidades de realizar uma marca que desse pontos à minha equipa do que a Coreia do Norte de ganhar o Mundial 2010. O objectivo pessoal era bater o meu melhor tempo e não ficar em último. Consegui não ficar em último! E na estafeta, um conjunto remendado que se apresentou ali, íamos tentar algo. Eu, o mais novinho, ia partir da pista 8, a mais distante do juiz de partidas. Olhei para o céu, estava um bonito dia, céu limpo, calor, estava cheio de "pica", o juiz grita "aos seus lugares", dou uma palmada em cada coxa, seguro firme o testemunho, coloco os pés nos blocos, tudo em condições, mãos junto à linha, lanço um último olhar ao chão e murmuro para mim três ou quatro palavrões de incentivo, de seguida o juiz vai gritar "prontos" (que é aquela posição em que os atletas levantam o rabo) e depois o tiro. E estava eu concentradíssimo quando oiço um tiro e veja uma manada de búfalos a levantar pó ao meu lado. O juiz tinha dado a partida e eu não ouvi o "prontos", que é como quem diz, não estava pronto para partir. Uma desilusão, uma tristeza enorme, fiquei confuso, atrapalhei-me, ainda corri o mais rápido que pude mas já não foi o suficiente. Reclamamos mas não serviu de nada, borrei a pintura.

No mesmo ano, prova - Campeonato Nacional de Juniores. Não tinha mínimos para ir mas o treinador achou por bem levar-me à estafeta. Era a nossa "Dream Team". Tri ou tetracampeões do Algarve, já nem me lembro, mas éramos os melhores. Os deuses estavam connosco. Póvoa de Varzim, pico do Verão, calor insuportável, vento forte, condições horríveis. Porém, nada demovia a nossa convicção, tínhamos equipa para lutar pelo top 8, talvez top 5. Mais uma vez, o novinho na partida e novamente pista 8. Desta vez não podia falhar. Duas palmadinhas nas coxas e uma palmada no peito musculado, estava em boa forma. "Aos seus lugares", cá vou eu. Pés nos blocos, joelho apoiado, mãos na linha, ao mínimo murmúrio levantava-me e esperava o tiro. "Prontos", ouvi e disse presente, "estou pronto", tiro e lá vou eu desalmado a curvar. Parecia um perdigueiro atrás de um coelho. Entreguei bem o testemunho e estávamos na luta pela frente da eliminatória. No último percurso, recta da meta, tudo a gritar, tudo a empurrar mentalmente os adversários para trás e o nosso colega para a frente, faltavam 60m para a meta e... estiramento na coxa (ou algo parecido). O rapaz começa a coxear, agarra-se à perna e termina a corrida em último a queixar-se de dores. Nova desilusão.

Mas agora tenho novo objectivo: natação. Prepara-te Michael Phelps, quando eu aprender a nadar nunca mais ganhas uma douradinha!

Sem comentários:

Enviar um comentário