terça-feira, 6 de novembro de 2012

Volta ao Algarve, não vás

Hoje apetece-me desabafar. Pois é, parece que a Volta ao Algarve em ciclismo não se vai realizar em 2013. Em causa estão as dívidas das autarquias à organização, que já li em qualquer lado que ascendem a 120 mil euros, é dinheiro. O que, por si só, é fácil de entender, o Estado está tão mal que nem existe adjectivo para classificar o estado do Estado. Mas, pergunto eu, na minha inocência, será que só o Estado tem dinheiro ou estará mesmo tudo em crise? Antes de responder, e porque não achei graça à forma como as pessoas leram o ponto de interrogação, "diz lá, ó espertinho!" ou "vai sair asneira", deixem-me apontar outro exemplo - futebol distrital no Algarve. Há muito que dezenas de clubes se vinham a arrastar, ano após ano sucediam-se as desistências e faziam-se contas ao impossível. Este ano, desapareceram vários clubes. A razão? Existem algumas.

O desporto algarvio, tal como sucede em muito sítio, subsiste à base de apoios autárquicos e subsídios do Estado e seus tentáculos. Essa vida, meus amigos, acabou, e já vai tarde. Um país como Portugal, de maus governantes em várias frentes, não pode resistir à base de subsídios. É preciso algo sério. Os treinadores levam as competições na brincadeira, os treinos são aceites por carolice e as organizações são amadoras. Os clubes são conjuntos de amigos e conhecidos que tentam brincar às casinhas com o dinheiro dos subsídios. Isso é, inevitavelmente, insustentável. É bonito meter uma fotografia no Facebooki de um jantar de Natal da colectividade lá da zona ou uma foto dos equipamentos novos com um logótipo desenhado pelo tio do fundador do clube ou os miúdos todos limpinhos com uns fatos de treino de uma marca chinesa e uma grande imagem a dizer Câmara Municipal. Mas essa tendência tende a acabar. Os clubes pequeninos vão desaparecendo, os pequenos têm de crescer e os que têm a mania que são grandes acabam. Patrocínios, apoios, trocas de favores, ajudas de custos, responsabilidade social... Não me vou alongar, hoje, por nomes teóricos e questões de comunicação. Vou falar como se fosse leigo.

As autarquias têm um montante para apoiar o desporto, lá distribuem aquilo da forma que lhes apetece, e os clubes ficam todos contentes, tratam das inscrições, da papelada, dos equipamentos, dos funcionários e, se sobrar alguma coisa, fazem uma gala no final do ano para beberem uns copos. Alguns visionários já descobriram que isso não é futuro, aliás, já não é sequer presente. No meu tempo, o clube dava muito e de mim não recebia nada, para além do meu imensurável talento para o desporto. Surgiram os sócios nos clubes pequenos que vão pagando curtas quotas e os jovens pagam uma mensalidade para praticar desporto. Pois bem, eu, apesar de ter uma licenciatura aos 23 anos tirada em seis semestres, digo que os clubes são mal geridos. Existe um mal neste país. Um gajo paga uns copos aos amigos no café, não tem dívidas na padaria, tem um negócio ou uma profissão à maneira, sabe ler e diz umas coisas engraçadas, é um bom candidato a presidente. Curiosamente, vislumbro aqui uma ligação de critérios entre os clubes mais pequenos e os clubes grandes...

in: sulinformacao.pt

Se todos fossem como o Futre já o desporto português estava noutro patamar. O Sporting foi buscar um indiano, que nem joga, e têm patrocinadores a pagar o ordenado ao rapaz, fizeram reportagens e até havia ideia para um reality show sobre a vida do Chhetri. Nos Estados Unidos os patrocinadores pagam estádios, dão orçamentos aos clubes, pagam salários a desportistas, oferecem equipamentos. Em Portugal, vive-se do Estado. Lembro-me de uma excepção: o Sporting de Braga fez um acordo com a AXA que resultou no naming do Estádio Municipal de Braga, no patrocínio da camisola e num orçamento para transferências, e o Braga ficou em 2.º lugar no campeonato, foi finalista na Liga Europa e jogou na Liga dos Campeões. Vamos deixar de viver do Estado? Boa? Volta ao Algarve, se me estás a ler, ignora o patrocínio da Santa Casa, vai vender a Volta aos bancos, às cervejarias nacionais e internacionais, às casas de apostas, às telecomunicações, às seguradoras, às agências de segurança, faz um acordo com restaurantes, hotéis, rent-a-cars, restaurantes, papelarias... para eliminar os gastos extra. A Volta ao Algarve tem melhores ciclistas que a Volta a Portugal e até teve direito a transmissão na Eurosport e RTP 2. Outra ideia, o turismo algarvio não tem qualidade nem entretenimento, vamos fazer da Volta ao Algarve um evento turístico? Entreguem a organização a uma agência de comunicação e marketing, as agências de viagens e os hotéis criam pacotes especiais, organiza-se uma feira tradicional que segue a caravana. Um esforço que a região pede, para acompanhar com uma fatia de pão e um copo de vinho.

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