terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Sou um Algarvio em Lisboa

Em Lisboa, aquilo a que chamam maior acumulado de prédios deste cantinho à beira-oceano, as pessoas mantêm relações impessoais entre elas. Eu próprio, aqui na minha zona, na minha rua ou no meu prédio, não conheço ninguém. Cumprimento, por cortesia, quem encontro dentro do edifício ou as caras que vejo com maior frequência mas sinto que possuo apenas uma cama nesta área e não me sinto parte dela. Ainda hoje vim com uma senhora no elevador e a viagem foi longa demais para tanta conversa.

Porém, e fica sempre elegante começar uma frase com um porém, desde piquinalhas que gosto de iniciar uma oração com um elegante porém, ou até mesmo um contudo, outras vezes recorro ao no entanto, sinto que iniciar uma frase já pronto a lançar um grito de revolta é algo que me fica bem, ora, porém, esta situação traz alguma animação ao dia-a-dia.

A razão por eu escrever este texto é muito simples, e passo a explicar: estava eu com uns amigos, a descer umas escadas à saída de um café, e vinha na frente do grupo a falar com uma rapariga cuja língua materna não é o português. Sempre brincalhão, estava a meter-me com ela porque ela tinha dito "bye, bye" ao empregado do café quando poderia ter dito em português. E então ela apercebe-se que sabe dizer algumas palavras em português e atira um "boa tarde" um pouco mais audível que o desejado. À nossa frente ia um casal nos seus quase trinta e a rapariga olhou para trás assustada. Como é óbvio, desatei a rir, a minha amiga ficou envergonhada, a outra rapariga ficou assustada, o outro rapaz começou a rir, eles aceleraram o passo e desapareceram da nossa frente num ápice. E eu fiquei a matutar naquilo. Se calhar a rapariga ainda ficou à espera que lhe pedisse desculpa por ela ter pensado que o "boa tarde" era para ela. Lisboa é um sítio onde as pessoas são "bichos-do-mato", ninguém se conhece, ninguém quer saber das outras pessoas e incomodar alguém é uma alegria. Às vezes vou ao supermercado e meto conversa com o funcionário da caixa, principalmente se for uma rapariga jeitosa, e há quem leve a mal. Costumo fazer piadas de circunstância e fingir que não tenho dinheiro na carteira, e há quem não reaja, continuam com aquele ar de robot e só conseguem dizer "bom dia, tem cartão de cliente?, são 14 euros e 32 cêntimos, obrigado" e levam as oito horas de labuta naquilo.


Se calhar sou um "Algarvio em Lisboa". Ainda no outro dia parou uma ambulância ao pé de mim para pedir indicações e eu, que mal conhecia a zona, tentei ajudar, não consegui, mas também não fugi a sete pés com medo das pessoas! Deixava aqui um apelo às pessoas das cidades, deixem de ter medo das pessoas (excepto de pessoas com mesmo muito mau aspecto ou que carreguem facas consigo). Já dizia um grande homem, "smile doesn't cost a penny"! Vamos ser alegres por um dia e sorrir às pessoas que vemos na rua e cumprimentar o motorista do autocarro e o "caixa" do supermercado e o vizinho do rés-de-chão. Vamos ser pessoas!

PS: Às vezes sinto-me um "Englishman in New York".

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