terça-feira, 26 de março de 2013

Raios te parta, patriotismo!


Faltam poucas horas para o jogo e não penso nisso, não sinto ansiedade, não me rabeiam borboletas na barriga, não estou confiante, não estou com um mau pressentimento, aliás, acho que não sinto nada, é-me indiferente.

Sou português, claro que sou, estupidamente orgulhoso de tudo e envergonhado com quase tudo. Acho que ser português é um bocado disso, ter orgulho e ao mesmo tempo vergonha. É gritar bem alto "PORTUGAAAAAAAAAAAAAL" quando batemos a Inglaterra nos penáltis, é espumar de raiva quando o Charisteas marca o golo, é chamar burro ao Postiga quando falha de baliza aberta, é aplaudir o Postiga quando marca o golo da vitória, é criticar o Paulo Bento quando as substituições correm mal e dar-lhe os parabéns quando o Varela faz o 3-2 à Dinamarca! Ser adepto é isso, ainda para mais da equipa de todos nós. Odeio perder, detesto empatar, o que eu quero mesmo é ganhar, sempre, se possível, o máximo de vezes que conseguirmos, marcar dez golos por jogo, com o pé, com a cabeça, com o rabo se for preciso, mas marcar, muitos, mais que o adversário, marcar mesmo quando o jogo está parado só pelo prazer de ver as redes contrárias a abanar com a bola lá anichada!

E hoje, não sinto isso, não sinto nada. Cinco jogos sem vencer, entre amigáveis e qualificação. Já estou farto disto, começo logo a fazer contas de matemática, e eu era um aluno razoavelmente bom a matemática. Estamos a muitos pontos da Rússia, do bilhete de avião para o Rio de Janeiro. Eu, muito provavelmente, não vou lá, mas quero que o Cristiano Ronaldo, o Nani, o Postiga, o Rui Patrício, o Fábio Coentrão e os outros todos vão lá por mim, nem precisam de trazer uma lembrancinha especial para mim, tragam o troféu de Campeões do Mundo para todos nós, não quero autógrafos, não quero fotografias, isso posso perder ou posso esquecer nalguma gaveta da cómoda, quero títulos, daqueles que ficam para sempre na história, ou na Wikipédia. Mas hoje não penso nisso. Azerbaijão... não me lembro de nenhum jogador, eu que jogo FM, eu que passo horas a vaguear pelo zerozero, não me lembro de ninguém. E pouco importa - é para ganhar! Lá no fundo, à medida que se aproximar a hora do jogo, o meu coração vai começar a palpitar mais depressa, distraidamente irei ligar a televisão e cinco minutos antes das cinco já estarei com a mão no peito a cantar baixinho o hino da minha Pátria, baixinho para só eu ouvir, mesmo que grite eles não ouvem lá em Baku. Tenho um treinador de bancada dentro de mim, já imaginei diversos onzes para entrar em campo, não há Ronaldo, não há Nani, outros parecem não existir, outros ficaram em casa, outros estão cansados ou desmotivados. Ai se eu não tinha puxado as orelhas ao Bruno Alves e ao Patrício, mesmo sabendo que eles medem mais meio palmo que eu, nem o Ronaldo escapava. Depois de um jogo daqueles ninguém escapava. Mas isto sou eu a divagar e a imaginar.

Metia o Patrício na baliza, merece, na defesa só metia o Pepe, o maior português da selecção nascido em Maceió, atirava o Neto às feras, deixava ficar o João Pereira por falta de concorrência e chamava o Antunes (o meu menino bonito do FM, nunca me falha, sempre certinho), metia o "tampão" Custódio e lançava o Paulo Machado, campeão na Grécia, tem de estar motivado, havia de comer a relva para mostrar que merece ser chamado mais vezes, depois o Vieirinha na direita, há anos que digo que este rapaz tem lugar de caras nesta selecção, pode ser uma pancada minha mas vejo muito talento naqueles pés, o Pizzi, estrela de um Deportivo em crise, Danny, já está recuperado e é irreverente, e na frente Postigol, obviamente. Há quem não goste dele, eu próprio, mas marca golos como não temos mais nenhum para o fazer. Leva quatro golos no apuramento, feios ou bonitos, mas ele sabe marcá-los e é esse tipo de avançado que faz falta. E contra este Azerbaijão tínhamos de golear, ganhar por poucos é bom contra a Espanha, contra o Brasil, não contra o Azerbaijão! Sei que o Paulo Bento não me ouve, aliás, sei que dos jogadores que eu disse apenas Patrício, Pepe, João Pereira, Pizzi e Postiga devem jogar de início. Sei que a primeira substituição vai ser tirar um extremo, possivelmente o Varela, depois refresca o meio-campo e, se estivermos a ganhar, troca o Postiga pelo Hugo Almeida. E eu a sofrer por fora, como se não sentisse nada...

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