domingo, 2 de fevereiro de 2014

Clã dos homens-pantera


Desde o início dos tempos, homens-pantera e homens-leão lutam pelo mesmo território: Armalok. Kali é um jovem homem-pantera, filho do falecido Kapito, primeiro rei de Armalok e comandante do maior exército que a savana já conheceu. Mas Kali pouco sabe, nasceu em tempos de paz e as únicas lutas que conhece são as que trava contra os seus amigos, no seio de um pequeno grupo de refugiados. O seu pai foi executado numa emboscada levada a cabo por Goti, o traidor.

Os sobreviventes da emboscada que vitimou o primeiro rei de Armalok vivem escondidos no meio da selva, escondendo-se entre antigas cavernas, fugindo sempre que os batedores de Goti se aproximam. Kali não sabe porque vagueiam pela selva, parando poucas semanas em cada novo esconderijo. Está mais preocupado em ser o mais forte entre os seus amigos e em aprender tudo o que Famil, o líder do grupo e o mais velho entre os sobreviventes, lhe ensina. Está cada vez mais forte, mais ágil e não perde uma oportunidade para desafiar os mais velhos. Em breve será o mais forte do grupo! Só de pensar nisso, os seus olhos negros brilham e o seu pêlo, negro como a noite, até parece crescer. Os seus amigos já o respeitam e todos dizem que um dia será um grande líder. Ele sorri e sacode as orelhas. As jovens fêmeas fofocam às escondidas, dizendo como ele se está a tornar belo e forte, mas ele não se interessa por elas. Só quer lutar e pregar partidas. Logo pela manhã, Kali procura o seu mentor, que o espera no seu posto de vigia. Há quem diga que Famil não dorme, está sempre atento. O jovem homem-pantera não acredita mas a verdade é que nunca apanhou Famil a dormir ou sequer desprevido. O velho mentor sabe sempre quando alguém se aproxima.

Uma noite, Kali desrespeitou as ordens para ir deitar-se e tentou enganar Famil. Levantou-se da sua cama, um monte de velhas folhas de árvore-sol, a árvore sagrada de Armalok, e aventurou-se pela selva à procura de Famil, com muito cuidado para não pisar os seus colegas e evitar qualquer barulho. O seu mentor estava sentado em cima de um rochedo, à entrada da passagem que dava para a caverna. Camuflado pela noite, apenas a sua barba branca brilhava ao luar. Kali misturou-se na vegestação e foi-se aproximando devagar. Já estava a menos de cinco passos e num salto era capaz de atacar o seu mentor.
- Sai daí, Kali. Devias estar a dormir junto dos outros.
- Bolas! Como sabes sempre quando me aproximo, não fiz barulho nenhum!
- Pensas tu, não foste assim tão astuto. Sei da tua presença desde que chegaste junto da passagem, ainda és muito desastrado. Para além disso, fugiste ao banho que Arlip preparou e estás a tresandar. - olhou então para trás, para ver melhor a cara de desilusão do jovem Kali - Senta-te ao meu lado. Quero contar-te uma história.
- Boa - Kali saltou para junto do rochedo e sentou-se - adoro as tuas histórias.
- Também fui mentor do teu pai. Eu e ele éramos muito amigos, era como um filho para mim - Kali adorava ouvir histórias sobre o seu progenitor. Sabia que ele tinha sido um guerreiro temível e um grande rei. Famil continuou - ele era tal como tu, queria ser o mais forte mas tinha dificuldade em ouvir os conselhos que lhe davam. Na nossa antiga aldeia, havia uma estátua sagrada, feita à mão pelos nossos antepassados, que estava na tenda do grande chefe. Uma noite, o teu pai esperou que todos se deitassem e tentou esgueirar-se pela entrada da tenda do grande chefe. Conseguiu entrar na tenda, sem fazer barulho, e roubou a estátua sem que o grande chefe acordasse. Estava eufórico quando saiu da tenda, com o troféu da sua aventura nas patas. Porém, eu já esperava por ele cá fora. Quase deu um grito quando me viu. Calmamente fui ter com ele e disse-lhe para devolver a estátua antes que arranjasse problemas. Ele era muito teimoso, tornou-se um guerreiro fantástico quando começou a ouvir os conselhos que lhe davam.
- Como conseguiste apanhá-lo? Tu próprio disseste que ele não tinha feito barulho. Nem o grande chefe se apercebeu!
Famil esboçou um sorriso.
- Sabes, Kali, quando os motivos que nos regem não são puros, acabamos por ser sempre descuidados. Um dia, quando os teus motivos forem puros, vais conseguir enganar-me. Até lá, deves ouvir os meus conselhos.
- Continuo sem perceber como fizeste isso...
- E agora tenho um conselho para ti. - antes que Famil falasse, Kali virou as costas e regressou à cama. Já conhecia esse conselho...

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