quarta-feira, 2 de julho de 2014

Di Maria, o melhor jogador feio da actualidade


Orelhudo, magricela, desengonçado e trapalhão, Angel Di Maria, Angelito, Di Magia, Triki Triki (alcunha que vem dos tempos em que jogava no Rosario Central) ou Fideo (noodles, se preferirem), o 7 da Argentina, o 22 do Real Madrid, o melhor jogador feio da actualidade.

Há uns meses lembro-me de ter lido, algures num “periodico” do país que fica a Este de Portugal, que Di Maria achava uma injustiça não ver o seu nome na lista de candidatos a melhor do Mundo. Por incrível que pareça, ou talvez por ainda me lembrar das suas arrancadas pelo corredor esquerdo daquele que foi o melhor Benfica que conheci, deu-me para concordar com ele. E hoje ainda concordo mais.

O tímido jovem magricela que aos 19 anos chegou a Lisboa tem feito de tudo para escrever o seu nome na história do futebol moderno. Contudo, conquista após conquista, golo após golo, a cada assistência que efectua com os seus magistrais passes de letra (diz o Angelito que tem mais confiança em cruzar de letra com o pé esquerdo do que em cruzar com o pé direito), o seu nome continua a não encher capas de jornais. Excepto em Rosario, cidade que o viu crescer e que ainda hoje acompanha a carreira de um dos seus maiores, se não o maior, prodígios.

Mas o Angelito nunca será um dos melhores do Mundo. Ou, reformulando, nunca será um dos melhores do Mundo para os media porque, para mim, já o é há muitos anos.

Para se ser um dos melhores do Mundo não basta jogar bem ou ganhar títulos ou bater recordes. Isso são apenas gotas num oceano. Para se ser realmente um dos melhores do Mundo é preciso que alguém diga que nós somos bons. É preciso que se escrevam crónicas e artigos de opinião, é preciso que alguém debata ou opine num qualquer programa onde os Freitas Lobos e Ruis Santos desta vida debatem e opinam, é preciso que os editores coloquem os nomes e as fotos nas capas dos jornais. Sem isso, muitos jogadores banais seriam isso mesmo – jogadores banais. Mas Angelito não tem imagem, ninguém fala nele, é um jogador feio. Foi o melhor jogador dos Jogos Olimpicos 2008, foi o melhor na final da Champions de 2014, foi o melhor ontem contra a Suíça. Mas não chega. O inútil do rato, que mais não fez em 120 minutos que um passe para golo, é sempre o destaque, mesmo tendo esse golo saído do pé esquerdo do feio.


O feio, o tal que não merece ser considerado um dos melhores do Mundo, ataca, defende, faz picos com e sem bola durante 90 minutos, 120 se for o caso, passa, desmarca, desmarca-se, luta, rouba bolas, fecha espaços, cruza, remata. Não é o melhor jogador argentino porque existe Messi, joga nos “blancos” e aí tem o Ronaldo, é patrocinado pela Adidas e leva novamente com o rato. Talvez se tivesse orelhas mais bonitas, ou se tivesse mais carisma, ou se desse mais entrevistas. Jogar bem não chega para que o feio Angelito possa ser um dos melhores do Mundo. Para mim, que gosto de ver futebol sem comentários, é dos jogadores que mais gosto de ver, é decisivo nas suas equipas e isso basta-me.

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