Orelhudo, magricela, desengonçado e trapalhão, Angel Di
Maria, Angelito, Di Magia, Triki Triki (alcunha que vem dos tempos em que
jogava no Rosario Central) ou Fideo (noodles, se preferirem), o 7 da
Argentina, o 22 do Real Madrid, o melhor jogador feio da actualidade.
Há uns meses lembro-me de ter lido, algures num “periodico”
do país que fica a Este de Portugal, que Di Maria achava uma injustiça não ver
o seu nome na lista de candidatos a melhor do Mundo. Por incrível que pareça,
ou talvez por ainda me lembrar das suas arrancadas pelo corredor esquerdo daquele
que foi o melhor Benfica que conheci, deu-me para concordar com ele. E hoje
ainda concordo mais.
O tímido jovem magricela que aos 19 anos chegou a Lisboa tem
feito de tudo para escrever o seu nome na história do futebol moderno. Contudo,
conquista após conquista, golo após golo, a cada assistência que efectua com os
seus magistrais passes de letra (diz o Angelito que tem mais confiança em
cruzar de letra com o pé esquerdo do que em cruzar com o pé direito), o seu
nome continua a não encher capas de jornais. Excepto em Rosario, cidade que o
viu crescer e que ainda hoje acompanha a carreira de um dos seus maiores, se
não o maior, prodígios.
Mas o Angelito nunca será um dos melhores do Mundo. Ou,
reformulando, nunca será um dos melhores do Mundo para os media porque, para
mim, já o é há muitos anos.
Para se ser um dos melhores do Mundo não basta jogar bem ou
ganhar títulos ou bater recordes. Isso são apenas gotas num oceano. Para se ser
realmente um dos melhores do Mundo é preciso que alguém diga que nós somos
bons. É preciso que se escrevam crónicas e artigos de opinião, é preciso que
alguém debata ou opine num qualquer programa onde os Freitas Lobos e Ruis
Santos desta vida debatem e opinam, é preciso que os editores coloquem os nomes
e as fotos nas capas dos jornais. Sem isso, muitos jogadores banais seriam isso
mesmo – jogadores banais. Mas Angelito não tem imagem, ninguém fala nele, é um
jogador feio. Foi o melhor jogador dos Jogos Olimpicos 2008, foi o melhor na
final da Champions de 2014, foi o melhor ontem contra a Suíça. Mas não chega. O
inútil do rato, que mais não fez em 120 minutos que um passe para golo, é
sempre o destaque, mesmo tendo esse golo saído do pé esquerdo do feio.
O feio, o tal que não merece ser considerado um dos melhores
do Mundo, ataca, defende, faz picos com e sem bola durante 90 minutos, 120 se
for o caso, passa, desmarca, desmarca-se, luta, rouba bolas, fecha espaços,
cruza, remata. Não é o melhor jogador argentino porque existe Messi, joga nos “blancos”
e aí tem o Ronaldo, é patrocinado pela Adidas e leva novamente com o rato. Talvez
se tivesse orelhas mais bonitas, ou se tivesse mais carisma, ou se desse mais
entrevistas. Jogar bem não chega para que o feio Angelito possa ser um dos
melhores do Mundo. Para mim, que gosto de ver futebol sem comentários, é dos
jogadores que mais gosto de ver, é decisivo nas suas equipas e isso basta-me.
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