segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Mentir ou distorcer a verdade é completamente diferente

Eu, por norma, tento ser responsável mas, em situações diversas e para um bem comum, sou daqueles que pensa em formas de fugir a ditas responsabilidades ou tarefas. Ou, simplificando, crio histórias e situações para escapar. O facto de eu não utilizar o termo "mentira" é ponderado pois raramente minto.

Vamos lá entrar no mundo de histórias e situações. Um sujeito, que, para evitar que me revejam nas situações aqui expostas, vou chamar Tó, está atrasado para o emprego. Uma chatice, é a terceira vez esta semana, o chefe fica chateado e coloca-o debaixo de olho. O Tó vai de carro e apanha a 2ª Circular, trânsito fluído e, de repente, trânsito cortado e lento com apenas uma faixa a circular. Houve um acidente entre dois veículos ligeiros. Chegado ao local da labora, o Tó dirige-se ao chefe e expõe a situação na sua versão: - Chefe, nem imagina. Vinha na 2ª Circular, trânsito lentíssimo, carros parados por todo o lado. Um acidente, mas uma coisa enorme. Contou-me um sujeito que, vinha um indíviduo lançado numa 600 e perdeu o controlo da mota e enfaixou-se num carro que por sua vez foi embater com um pesado de mercadorias. Um estrondo enorme, a estrada cheia de feijão enlatado e parafusos. Apenas uma faixa aberta para tanta gente. Pensei que ia lá ficar o dia todo. Entretanto, parei o carro e fui lá ver se precisam de ajuda. Havia mulheres a chorar e senhores a pensar nos estragos e nos seguros e nas chatices mas ainda consegui amenizar a situação e fiquei com o número de uma das senhoras, bem jeitosa, para o caso de conhecer um mecânico que possa ajudar a reparar o pára-choques. - Tudo tranquilo, o chefe acredita e o rapaz é aumentado por ser um cidadão à maneira.

Outra situação, o Tó, casado e a viver com a esposa, vai ao supermercado para comprar carne picada para o jantar. Chegado ao supermercado, não existe carne de porco picada em embalagem, a esposa não gosta de carne de vaca e a fila para o talho tem três velhotas. Para evitar demoras, até porque a esposa iria assumir de antemão que o Tó tinha encontrado uma mulher gostosa e espadaúda e tinha ficado no engate, o Tó pega numa caixa de entrecosto e vai para casa. Chegado ao lar, o Tó mete um ar descontraído, esconde o talão e diz, efusivamente: - Querida, nem imaginas. Lembrei-me que adoras entrecosto e estava uma promoção óptima que não pude resistir. Aqui temos umas tiras de entrecosto para meter no forno. (sentindo a pulsação da esposa a aumentar e os olhos a fugir para o preparado de molho de tomate e para o esparguete à espera da carne picada) Mas vai lá ver a telenovela que eu preparo o jantar. No final, se me deres um beijo, até lavo a loiça. Sabes como eu adoro cozinhar para ti. - Novamente, o Tó safa-se, a mulher fica toda contente, nem deixa que ele lave a loiça e arrasta-o para cima da mesa da cozinha para hora e meia de sexo louco e violento.

Numa última situação, vamos imaginar que o Tó termina mais um dia de trabalho, vai jogar à bola com os colegas e, após o banho, decidem-se por ir beber umas cervejinhas para um bar em frente ao campo onde a empregada é bem gira e costuma usar decotes apetitosos. O tempo passa, os copos vazios acumulam-se, os piropos para a simpática, e jeitosa, empregada acabam e o bar fecha. Cambaleando, o Tó e os amigos dispersam a caminho de casa. O Tó entra em casa, completamente embriagado, com o saco de desporto a tiracolo, a camisa mal abotoada, a braguilha aberta e um hálito capaz de embriagar um pequeno gato. À sua espera, a esposa e um rolo da massa. Calmamente, o Tó volta a usar o seu poder de argumentação: - Amorzinho, eu sei que não avisei que não vinha jantar mas eu embrulho e levo amanhã para o almoço, aposto que está maravilhoso como sempre. Sabes como são os rapazes, depois de uma futebolada vamos sempre beber uma água ao café do Xico. Mas hoje estava lá uma senhora, com cerca de 80 anos, que estava muito mal, a beber desalmadamente e a ingerir comprimidos com a bebida. Eu e os rapazes, receosos que a senhora se estivesse a tentar suicidar, ficamos a fazer-lhe companhia, a falar com ela, a explorar algo que lhe desse vontade de combater esse sentimento maléfico do suicídio. O problema é que, para conversar com ela, tínhamos de beber o que ela bebia. Ficamos todos podres de bêbados mas salvamos uma vida humana! - e, desta vez, não resultou muito bem. Na verdade o Tó é um primo meu que teve uns problemas ultimamente, a mulher pediu o divórcio, partiu-lhe dois dentes com um rolo da massa e ele agora está num manicómio a espumar da boca e a resolver puzzles para crianças de três anos. Tirando isso, não vejo porque alterar ligeiramente a verdade pode ser mentir...

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